top of page
  • Instagram
WhatsApp Image 2025-03-17 at 02.49.38.jpeg

Sacada

A sacada propõe um ambiente de descontração e reconstrói a temática ferroviária a partir da ideia de tuneis e ferrovias em meio a floresta. 

Conto #10
00:00 / 02:41

O último vapor

      Pergunto-me, em certos momentos, como este em que me encontro, se realmente existem pessoas, neste pequeno mundo que me cabe conhecer, que dominaram a compreensão sobre o funcionamento transitório desta vida. Costumava ser, e minha consciência ainda me inclina a confessar este defeito, meu constante ímpeto de renegar este mundo que muda cada vez mais, e concede, mas também tira, e este último, ao meu sentir, em maior excesso despudorado. Há tão poucas coisas que logro entender, e isto tem me angustiado cada vez mais.

     Sou um sulista assumido, amante destes pampas e desta serra, e apenas os céus podem testemunhar o quanto eu desfruto destas incursões ferroviárias, no entanto, não desta. Este século vinte traz muito progresso para certas coisas, mas a nossa natureza humana ainda parece intocada pela própria intelectualidade que proporciona. É incrível como a morte nos deixa de joelho perante o destino que todos teremos que enfrentar, (Ah, o túnel).

      Há aqui um velho túnel, no qual o trem que me desloca até a cidade de Rio Grande sempre passa, ao menos, é assim que minha mente gosta de pensar. Um túnel onde a vegetação cresce em suas paredes, até mesmo na escuridão. Elas crescem. 

      O pampa, paisagem que acompanha toda viagem, vê-se interrompido, por essa escuridão, agora causadora de uma má angústia. E a forma das folhas que eu vislumbrava mesmo na escuridão, forçam-me a engolir o que queria acreditar ser uma verdade, no entanto, é um fato que se apresenta. O remédio o qual todos nós desejaríamos não haver necessidade de tomar. Os segundos que a passagem deste arco contínuo de pedra exigem para o trem, impõe uma eternidade intragável em meu coração.

      Ora, isto deve ser um artifício, vida nenhuma cresce na total escuridão. Os engenheiros, arquitetos, paisagistas ou seja qual for o diabo que teve esta ideia, devem ter preenchido o interior deste lugar com plantas artificiais para não mostrar a insalubridade destes lugares que não veem a luz. Só pode ser isto. Ah, como eu chacino a memória de meu querido professor com estes pensamentos imaturos. “Há vida em todo lugar!” E essa declaração, reconfortante em certa época, agora me atormenta. Perdoa-me, caro professor, ainda não aceito essa transitoriedade, a tua transitoriedade. Não sou ignorante, nem estava desatento em tuas aulas, lembro-me bem, se há vida em todo lugar, há destino, e se há destino…

      Ah, já vejo a luz, e com ela, a decadência de minha ingenuidade e da minha teoria. Tem folhas mortas nestas vinhas, folhas que esta luz no fim me permite ver. São de verdade, e estão mortas. Estão mortas, meu estimado doutor. E deste torpor volto, agora, e me lembro, estou a caminho do teu funeral.

Email

Redes Sociais

  • Instagram
bottom of page